"O pastor X salvou minha vida"
"Ai, o dr. Y me tirou da depressão"
"Nossa, para o deputado Z eu devo o meu retorno à vida"
"Ai, o dr. Y me tirou da depressão"
"Nossa, para o deputado Z eu devo o meu retorno à vida"
Qualquer pessoa bem assessorada causa essa impressão indelével nas almas, mais ainda se tiver fama no comércio e que desta faça chegar ao coração do fã a ilusão de um sentimento de importância que ele talvez na vida jamais teve. Uma coisa é ter um membro restituído pelo dr. João da Silva, outra muito mais grandiosa é ter a garganta examinada pelo dr. Drauzio Varella: sempre que o magrelo for citado, o "paciente" aparecerá dizendo o quanto foi bom, mágico e espetacular estar com ele enquanto chacoalha efusivamente uma polaroid.
Em qualquer igrejola com estrutura de pastelaria encontram-se pessoas absolutamente convencidas de que aquele homem que cospe e grita lhes transformou a vida. Do mesmo modo há um sem número de pessoas absolutamente prontas para dar sua vida pela promoção de Edir Macedo, Valdomiro Santiago ou qualquer pregador pentecostal.
Há que ser muito bobo para rebater análises técnicas - e deixar de organizar as suas próprias - baseados na autoridade do testemunho de um desesperado, onde o que vier será lucro e para quem a oportunidade de aparecer como um reconstruído é uma necessidade vital além de uma tentativa desesperada de auto persuasão.
Bom seria se o público percebesse que tantos destruidores de lares e monstros para a própria família são os grandes "salvadores de vida" dos outros, especialmente no campo da política, da religião e dos coaches improvisados de temperamento histriônico, conforme analisei e no vídeo n.1 da série "Lavagem Cerebral em novas comunidades" no Sugestão Católica.
- Comigo mesmo já aconteceu de pacientes virtuais e ad hoc dizerem que lhes salvei a vida. Em todos esses casos, quando pude responder, levei o pessoal a perceber que no fundo eu só reensinei a falar em público, respirar, superar o pânico, dormir, impor sua personalidade, andar de avião.
No fundo, "salvar a vida" é expressão fácil na boca do brasileiro agradecido, e em quase todas as vezes só queria manifestar um "obrigado, estou aliviado".
Mario Umetsu
"Quem é você pra falar do dr. XYZ, que já salvou dez vidas?"
Sou outro que já salvou cem, e qualquer um pode fazer o mesmo se apresentando como inspetor de quarteirão ou voluntário do CVV. É bom, é bonito, mas não precisa exigir um Oscar por isso, que não apaga sua falta de inteligência, deficiências culturais crassas e uma vida de misérias.
Mario Umetsu
Aprender a distinguir entre descrição técnica e compromisso emocional.
As propriedades deste último elemento deverão se estudar por uns quatro anos no mínimo, porque a ignorância e o charlatanismo já estão levando os debates à necrose.
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