02/06/2019

Debate ROCK'N ROLL

Debate sobre Rock entre um roqueiro e Mario Umetsu e perguntas dos leitores 
Facebook, 6/4/2019
 


➖➖ 

         Roqueiro (Roq): Rapaz, qual problema com rock 🤦🏻‍️?


Mario Umetsu (M1): Todos. Fadiga cortical, sobreposição de ritmos, cultura bosta e infantilizante... Isso é o rock.
Roq: 🤦🏻‍ fadiga? É o oposto.... é relaxante (Roqueiro envia 4 links de igual teor: “Pesquisa indica que ouvir death metal traz prazer e não estimula violência - Victoria Gill, Repórter de Ciência da BBC News”)

M1: Exatamente. O relax é a única parte que se consegue notar, causado automaticamente após a fadiga. O cérebro se desliga, "desiste" de pensar e por ali passa qualquer merda.
Dê lições de vida aos exemplos de virtude e relax que são os artistas de rock e às imbecilidades que se praticam nos shows.
Se quiser, leia isso aqui que é bem melhor. 

👇
















➖➖➖➖➖➖
Roq: “Experiência própria, eu ouço rock in roll e tudo quanto é tipo de metal, e nunca tive ansiedade, depressão e essas doenças psicológicas...”

M1: Há milhares de pessoas que tomam tiros na cabeça e não morrem, o que não comprova a iletalidade do projétil. (...)

Roq: Estou falando de 29 anos ouvindo rock... É eu não estou falando só de mim. Convivi a vida toda com pessoas do metal, conheço um círculo de pessoas considerável. Todos que conheci que ouve rock, são pessoas super calmas.As loucuras do show q vc citou, é puro teatrinho ;)” 

M1: Ninguém esteve falando de agressividade e tampouco especificando o modo dela. Que o ritmo é hipnótico tem por finalidade dissolver a atividade cortical, isso até os rockeiros "raiz" sabem. O problema é você não ter "experiência" pessoal nenhuma de praticar a sugestão conscientemente ou rastrear a fundo os artiguinhos que linkou.

Os livros que indiquei são citados até hoje nos tratados internacionais.

A fadiga a que me refiro é a transmarginal, em conceito pavloviano, e não àquela que você tem e precisa sentar num banquinho.

Roq: “E o que tem a me dizer sobre a música “sertaneja” atual, que me causa um ódio absurdo e me dá vontade de matar alguém?”

M1: Você confunde atividade neurológica com gosto pessoal quando fala de sua reação ao sertanejo. Não tem razão para continuar isso.

Roq: “Quando citei o sertanejo queria saber seus conhecimentos profundos sobre o mesmo assunto relacionado ao sertanejo. Eu estou lhe fazendo questionamentos. Pra ocorrer fadiga transmarginal não tem q haver altos níveis de stress anteriormente? Eu lhe afirmo q o rock não causa o stress, ele alivia o stress causado por outras coisas distintas do rock.
 As pesquisas que citei afirmam isso! É como se fosse um “remédio”, para os sintomas de uma “doença” causada por outros motivos. Aí eu lhe pergunto, isso é ruim? Há problemas ou benefícios nisso?”
M1: Se for pra "duvidar" que fiz e repeti o método (grande merda essa experiência banal), é bom antes lembrar que você não pode me estipular o método se não sabe o que é estado hipnoidal, coma hipnótico, não relaciona descargas de ECT com micro convulsões, não está inclinada a aceitá-los e não pode entender absolutamente nada dos links que citou desde que também não entendeu nada do que escrevi.

Roq:  “Entendi que vc disse que o rock causa stress pra depois “desligar” (relax), mas nas pesquisas realizadas as experiências foram conduzidas através de um stress causado por motivos além, e o rock foi capaz de causar alívio. Meus pressupostos são os afirmados nas pesquisas, que inclusive foram realizadas por décadas. Meu real questionamento também é se o stress é de fato causado pelo rock (o que realmente acredito que não). E se o rock não é o real causador do stress porque os seus efeitos finais seriam então ruins? Aliás, eu quero ver a parte específica na sua literatura de que o rock tem ligação direta com a “fadiga transmarginal” de Pavlov, ou se é só correlação baseada no achismo.”


M1: Não gostaria de discutir sua ignorância ou capacidade de entender sobre os termos técnicos dos quais fui obrigado a adentrar, mas nem mesmo por um minuto você esteve consciente do tema.
O aspecto neurológico: exposto a estímulos invariáveis e ininterruptos o sistema nervoso reduz a atividade cortical e leva as ondas cerebrais a estados paralelos à normalidade de um desperto. A reação pode desencadear frenesi, desmaios, relaxamentos, tensões intensas ou transes espontâneos PRINCIPALMENTE SOB A EXPOSIÇÃO PROLONGADA LONGITUDINALMENTE ou TRANSVERSALMENTE (por anos ou por minutos).
Experiência simples pode ser feita forçando os olhos contra a luz, observando um pêndulo, sentindo sono sob o barulho da chuva, sentindo sono em um culto religioso; observando as convulsões dos pentecostais, a insensibilidade à dor (Iogues da Índia, filhos-de-santo do candomblé, tatuados e piercingados do mundo do rock), os surtos de carismas, o êxtase místico, o show de "milagres" das igrejas de Macedo e Valdomiro, o frenesi dos terreiros. O mesmo acontece nos shows de rock (e também nos funks e nos sertanejos, com leves atenuantes). Você dirá que é "teatro" porque não conhece o hipnotismo, prática comum do dia-a-dia de qualquer um e disponível em qualquer manual de psiquiatria ou neurologia.
Por essas e outras nos shows de rock - e hoje em quaisquer outros - exagera-se no uso de luzes estroboscópicas coloridas, fumaça, potência de caixas de som. Todas as vias sensoriais são entupidas de estímulos e certa descarga deve necessariamente ocorrer. Com frequência pessoas drogam-se ou bebem para atenuar esses efeitos, principalmente os próprios artistas.
Reduzindo a frequência cerebral, a pessoa torna-se suscetível a recepcionar sugestões. E só aí entra o aspecto das letras de rock, frequentemente detestáveis e responsáveis por uma cultura simbólica e comportamental, ainda que não uniforme, que corresponderá a impulsividade a que aludi no início da postagem e você não entendeu.

A respeito dos estudos citados:
Você relacionou quatro matérias e aparentemente nem percebeu que quase todas apontavam para o mesmo trabalho (link abaixo). Não deveria escolher tão somente pela manchete atraente e nem tão facilmente sobre um assunto que ignora termos, fenomenologia, efeitos e bibliografia básica.

Estudo n.1:
“O estudo envolveu 39 ouvintes regulares de música extrema que tem entre 18 e 34 anos de idade. Os participantes foram monitorados depois de um período de 16 minutos de "indução à raiva".

De nada importa que tenham passado por uma sessão de 16 minutos (!!!) “de raiva” em bate-papos a respeito de tópicos que “inspiravam algum tipo de desconforto, como relacionamento, trabalho e dificuldades financeiras” (sic) – e depois tenham passado por DEZ MINUTOS de audição musical e mais dez de silêncio. Comum que os tais “deprimidos” tenham se distraído com a audição musical subsequente. Não há nada além.

Além de tal apontamento em nada dizer respeito aos arcos-reflexos, amiúde comprovados, ninguém pôde comprovar o quão “deprimidos” os experimentados ficaram por um bate-bola de mazelas universitárias. O estudo é absolutamente desprezível e a manchete dada pelos sites, que você escolheu trazer-me, carrega sensacionalismos e nada mais.

Estudo n.2:
Enfoca majoritariamente resposta cerebral À IMAGENS e LETRAS:
“Using a binocular rivalry paradigm, we investigated whether the presence of violent music influences conscious awareness of violent imagery among fans and non-fans of such music. Thirty-two fans and 48 non-fans participated in the study. Violent and neutral PICTURES were simultaneously presented one to each eye, and participants indicated which picture they perceived (i.e. violent percept, neutral percept or blend of two) via key presses, while they heard Western popular music with LYRICS that expressed happiness or Western extreme metal music with LYRIRCS that expressed violence”

A única resposta satisfatória que podemos extrair desse estudo sob o aspecto que hoje discutimos é os voluntários estarem vivos ou não. A proposta exclui os arco-reflexos e a sobreposição dos ritmos - e o rock é essencialmente rítmico.

Letra não é ritmo. E o estudo interessante que se deve fazer a respeito da influência da letra é em sob um influxo psicológico longitudinal, em trabalhos antropológicos e sociais e não em minutos de exposição de fotografias e atividade cerebral perante uma canção. E a pesquisa a que me refiro já foi aplicada por centenas de vezes

(...) Se pesquisasse sobre o assunto de modo correto e determinado – e deixasse de lado o aspecto de gosto pessoal, que a mim mesmo em nada importa – estenderia a comédia a esses trabalhos também. Trabalhos científicos são os que eu lhe recomendei, e não esses que você trouxe.


Respondendo às suas perguntas:

“ E isso seria inteiramente ruim ou bom? Esse é meu questionamento!”

Inteiramente ruim. Foi o que explicitei no caput da postagem: a impulsividade da modernidade se deve em maior parte à exposição às músicas modernas das quais o rock foi predominante sobre a geração dos imbecis dos Beatles, Rolling Stones e tantas outras porcarias cuja documentação de explosão dos nervos para a revolução cultural tenho em fartura. As letras do rock correspondem a um projeto, e multidões de alucinados, drogados, suicidas, body pierrcings insanos, bebuns, woodstocker’s, comedores de cabeça de morcegos, quebradores de guitarra da geração “drogas, sexo e rock’n roll. Não há incoerência alguma entre o que se diz e o que se pratica AINDA QUE não exerçam de imediato o mesmo efeito para todos.

“Meu real questionamento também é se o stress é de fato causado pelo rock (o que realmente acredito que não)”

Sim, o stress é causado pela exposição. Tratamos disso sem considerar ainda o conteúdo das letras que entram no período hipnoidal (de relax) como sugestões diretas e signo-sinais pavlovianos.

Nota: quem é viciado em drogas encontra o alívio de suas tensões no próprio uso delas. Seria conveniente perguntar se "isso é bom ou ruim", desde que o mecanismo é exatamente o mesmo com os estilos musicais devido à descarga de secreções internas que provocam e ratificam.

➖➖
Leitor 2 pergunta: Ô Mario, se puder fale um pouco do heavy metal como movimento na nova evangelização ( acho que isso, bandas de rock/ metal católico, com grande alcance, nem existe mais, ou ao menos não com a mesma força de 10-15 anos atrás, quando acompanhei de perto).


M1: Leitor 2,  tenho cá minhas dúvidas se o emprego e a difusão dele no meio religioso obedeceu a uma maldade consciente de alguém, e, se sim, em quais situações especificamente.
Bem, o rock pode causar o estupor e o frenesi tão característico dos místicos de todos os tempos, dado o sobrecarregar dos nervos e a inibição no córtex. Facilmente provoca reações pseudo religiosas e naturalmente fez escola para a nossa era dos jovens (e velhos) místicos...

Sargant, um dos maiores psiquiatras da história, analisou o caso em questão e colocou lado a lado as possessões místicas (por demônios, deuses ou bons anjos) ao histerismo causado pela exposição ao rock.
O conceito eu já pude explanar por aqui. Ao final do livro ele apresenta algumas imagens, de onde tece análises comportamentais. 
👇




➖➖

Leitor3 pergunta – “Qual a diferença entre a música dita "clássica" e os gêneros contemporâneos, Mario? Seria uma diferença material, formal ou final?” 
(...)

M1: O que há no rock já surge em elementos cada vez mais presentes cronologicamente a partir da era do Romantismo. Temos em Chopin, em Berlioz, Liszt... apelos extremamente grandes aos sentidos, em termos de bombardeá-los de sensações que não seriam avaliadas pelo racional, pelo córtex cerebral, por serem tão somente sensações distantes de encontrar alguma organização que não seja instintiva e demasiadamente abstrata. Aos poucos o ritmo (harmônico e de aproveitamento de pulsos) suplantou a melodia na ordem musical ontológica de nossa cultura e os trechos musicais foram abdicando da forma.

Logo, o Romantismo demonstrou-se uma tendência (de origem pagã, que não vem ao caso ser analisada, mas é muito interessante ter em conta) que de fato influenciou tanto que não foi derrotada por nenhuma outra. Tudo aquilo que com ele surgiu - o culto ao artista, as crises nervosas nos shows, a indumentária do músico e a organização do palco para mais impressionar os presentes - bem ilustrado com as figuras de Liszt e Paganini, que já agiam como rockstars no séc. XIX. Tudo isto deve ser considerado em nossa análise...

(...)

A música como expressão da personalidade é uma característica do Romantismo, mas acredito que pela nossa zona de interesse não importa tanto. É bem mais uma questão comercial e política.


Leitor 3: Ok. Então não seria exagero dizer que a diferença entre Beethoven ou Chopin e Iron Maiden ou Elton John é apenas de grau, ou seria? Mas, e quando à música pré romântica, como Bach ou Mozart, por exemplo? Enfim, qual a diferença entre a música do século XVIII e XIX,?


M1: Pensando-se tão somente no pensar de "tocar para comover", sim. Mas a qualidade técnica - outro assunto - é inquestionavelmente oposta. Quase não há mais apreciação estética possível em Iron e John.
A música do séc. XVIII prezou por buscar o equilíbrio na forma, na duração, nos timbres... e em alguns momentos descambou para experiências características do "Sturm and Drung" e foi consolidando os conceitos opostos à medida que o tempo ia transcorrendo. Foi uma época de transição, uma vez que nenhum movimento filosófico ou artístico é preparado poucos anos antes de sua proposição e formalização.

(...) 

Sobre a apreciação estética, haveríamos de resolver se os pontos são ou não subjetivos, de acômodo auditivo pessoal. Veja por exemplo os músicos dodecafonistas, que quase chegam a orgasmos espirituais com aquela massa sonora quase toda dissonante, mas de um prazer estético derivado dos números e da ordem.
"por que não haveria o mesmo tipo de fruição com alguns gêneros contemporâneos, como o rock e subgêneros" - Pode sim haver. Eu nunca disse que não.
"já que ambos possuem características formais e finais semelhantes" - Discutiríamos essa "formalidade", já que afirmei acima que o desenvolvimento do Romantismo foi abdicando da forma. Talvez você tenha ficado confuso quanto ao uso do termo "forma", que em música é uma coisa e em filosofia, outra - e mesmo nesta é tão diversificado.

Beethoven e Wagner eram de fato gênios da combinação de sons. Os rockeiros nunca. No máximo, fazem uma melodia interessante ou pagam para um arranjador bolar alguma coisa difícil pra botar lá no meio do que fazem.




Links citados - 
Pesquisa do Roqueiro: 

Pesquisa indica que ouvir death metal traz prazer e não estimula violência, Victoria Gill, Repórter de Ciência da BBC News


Da mesma fonte BBC a contradição (real) à pesquisa elencada pelo Roqueiro:

A sinistra história dos 'assassinos black metal' da Noruega, Nicholas Barber. Da BBC Culture










Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é importante. 💁‍♂️